Escrevi tais palavras à minha maestra Alicia Fernández e aqui gostaria de transcrevê-las.
Será,
talvez, ousadia querer muitíssimo fazer o mestrado que tanto sonho?
Maestra
querida,
Em
2009, graduei-me no curso de pedagogia no Instituto Nacional de Educação de
Surdos, digo, pela faculdade do Instituto. Sempre disse que caí de paraquedas
nessa área, pois a Psicologia há muito é o meu maior desejo. Estava ali pelo
mundo dos sujeitos surdos, pela oportunidade de aumentar (enriquecer) o meu
contato com eles. Todavia, no segundo ano de graduação já estava completamente
apaixonada pela educação e logo tive o conhecimento da psicopedagogia quando, então, decidi fazer tal especialização antes do meu almejado mestrado (em Psicologia, é claro). Aos
poucos galgo o que tanto planejei/desejei desde a faculdade.
Por
vezes as pedrinhas no caminho ainda me entristecem, mas minha fé é inabalável e
eu tenho a plena consciência de que não estou sozinha. Muita discriminação,
preconceitos infelizes, palavras destrutivas ouvi algumas vezes, mas tudo o que
já passei, tudo o que ainda vivencio me fortalecem. Possivelmente sem tais
experiências não seria o que hoje sou. Com certa dose de tristeza no ser digo
que ainda não exerço a minha paixão (profissionalmente). Visto que algumas
limitações, por hora, ainda me impedem de trabalhar como professora (já que por
causa da Ataxia Cerebelar os músculos da minha fala são um pouco comprometidos
e o “meu bem” também compromete a minha coordenação motora fina – através do
meu esforço diário hoje escrevo muito melhor que ontem, mas minha escrita é
totalmente imprevisível). Que escola irá disponibilizar um retroprojetor ou
Datashow exclusivamente para uma professora? Como vou ensinar os meus alunos
surdos a escrever? Como vou escrever no caderno e/ou na agenda deles? São
tantos medos, confesso. Por que eu devo me dedicar ao EJA se eu não tenho ânsia? Estou tentando me trabalhar psicologicamente - vivo me
autoanalisando -, porém tudo tem seu tempo e eu me absolvo de ser imperfeita.
Não
me considero deficiente, tampouco infeliz por ter uma doença degenerativa.
Minha característica é a minha salvação, ela é a responsável por eu ser quem
sou. Conheço pessoas incríveis, médicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos etc.,
pessoas que certamente não conheceria se não tivesse tal especificidade. Cada
pessoa ímpar que já passou pelo meu caminho. Normal e anormal é um paradoxo
sumamente surreal. Ninguém sabe o seu futuro. Às vezes “me pego” grilada com o
meu “possível” futuro, mas logo levo um puxão de orelha da minha neurologista,
amiga e psicóloga. Afinal, ninguém sabe como realmente será o seu futuro. E
sabe do que mais? Sinto-me curada, entretanto a minha concepção de cura difere
da sua, talvez (certamente). Exaurida por vezes fico de tanta besteira ouvir.
Somente eu sei das minhas renúncias, o dinheiro é contadinho, mas feliz me
sinto por poder “bancar” meu(s) curso(s). De família pobre, me ensinaram desde
cedo que pobre não tem o direito de sonhar. Pois saiba(m) que sonho
demasiadamente e que meu novo sonho é a “minha” clínica particular onde como
pedagoga bilíngue, psicopedagoga e psicóloga focada na educação
inclusiva/especial atenderei os meus pacientes num espaço único do qual
juntarei o que aprendo com o Yoga e com os Tapetes Contadores de Histórias.
Imensamente grata ao Universo por tudo sou, pois minhas conquistas têm um
gostinho totalmente indizível. Cada degrau alcançado tem um misto de suor e
prazer inefável.
Apesar
de atualmente ainda não exercer o que tanto anseio – já que dizem que
orientadora educacional, coordenadora pedagógica etc. não posso ser pois nunca
fui professora, não tenho a prática, nem a pós lato-sensu do INES posso fazer
para me aperfeiçoar na área da educação de surdos porque eu não tenho
experiência; só que mal sabem que as portas fechadas me cristalizam e amadurem
cada vez mais -, hoje sou funcionária de uma empresa que acreditou (acredita)
em mim, que me respeita enquanto profissional e que não vê o que não tenho.
Após uma longa tristeza consequente de uma discriminação sofrida no antigo
trabalho, estou onde realmente me veem.
Estou
vivendo um sonho, pois me alegra muito fazer essa especialização com a senhora.
Agradeço a Deus todos os dias por tal oportunidade (há poucos meses iniciei a pós em Psicopedagogia Clínica). Tenho participado pouco,
pois ainda não exerço a profissão que tanto sou enamorada. Contudo, aprendo muito
não somente com a senhora e com o professor Jorge, mas com cada um dos seus
alunos (aqueles belíssimos profissionais que tanto me inspiram também), com a
Yara e com a Viviane. Gosto de ficar quietinha ouvindo o que vocês têm a me
acrescentar e como criança com os olhinhos brilhantes e arregalados de
curiosidade e admiração escuto minuciosamente cada silêncio pronunciado.
Sinto-me honrado por essa experiência, por ser aluna do EPsiBA pela segunda
vez. Um dos momentos mais felizes da minha vida foi quando fui ao seu encontro,
no primeiro final de semana da turma 2014 do Rio, e a senhora me reconheceu. É
tão bobo dizer isso, mas senti-me uma criança extasiada.
No hay comentarios.:
Publicar un comentario