miércoles, agosto 6

Será? 8/

Escrevi tais palavras à minha maestra Alicia Fernández e aqui gostaria de transcrevê-las.

Será, talvez, ousadia querer muitíssimo fazer o mestrado que tanto sonho?

Maestra querida,
Em 2009, graduei-me no curso de pedagogia no Instituto Nacional de Educação de Surdos, digo, pela faculdade do Instituto. Sempre disse que caí de paraquedas nessa área, pois a Psicologia há muito é o meu maior desejo. Estava ali pelo mundo dos sujeitos surdos, pela oportunidade de aumentar (enriquecer) o meu contato com eles. Todavia, no segundo ano de graduação já estava completamente apaixonada pela educação e logo tive o conhecimento da psicopedagogia quando, então, decidi fazer tal especialização antes do meu almejado mestrado (em Psicologia, é claro). Aos poucos galgo o que tanto planejei/desejei desde a faculdade.
Por vezes as pedrinhas no caminho ainda me entristecem, mas minha fé é inabalável e eu tenho a plena consciência de que não estou sozinha. Muita discriminação, preconceitos infelizes, palavras destrutivas ouvi algumas vezes, mas tudo o que já passei, tudo o que ainda vivencio me fortalecem. Possivelmente sem tais experiências não seria o que hoje sou. Com certa dose de tristeza no ser digo que ainda não exerço a minha paixão (profissionalmente). Visto que algumas limitações, por hora, ainda me impedem de trabalhar como professora (já que por causa da Ataxia Cerebelar os músculos da minha fala são um pouco comprometidos e o “meu bem” também compromete a minha coordenação motora fina – através do meu esforço diário hoje escrevo muito melhor que ontem, mas minha escrita é totalmente imprevisível). Que escola irá disponibilizar um retroprojetor ou Datashow exclusivamente para uma professora? Como vou ensinar os meus alunos surdos a escrever? Como vou escrever no caderno e/ou na agenda deles? São tantos medos, confesso.  Por que eu devo me dedicar ao EJA se eu não tenho ânsia? Estou tentando me trabalhar psicologicamente - vivo me autoanalisando -, porém tudo tem seu tempo e eu me absolvo de ser imperfeita.
Não me considero deficiente, tampouco infeliz por ter uma doença degenerativa. Minha característica é a minha salvação, ela é a responsável por eu ser quem sou. Conheço pessoas incríveis, médicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos etc., pessoas que certamente não conheceria se não tivesse tal especificidade. Cada pessoa ímpar que já passou pelo meu caminho. Normal e anormal é um paradoxo sumamente surreal. Ninguém sabe o seu futuro. Às vezes “me pego” grilada com o meu “possível” futuro, mas logo levo um puxão de orelha da minha neurologista, amiga e psicóloga. Afinal, ninguém sabe como realmente será o seu futuro. E sabe do que mais? Sinto-me curada, entretanto a minha concepção de cura difere da sua, talvez (certamente). Exaurida por vezes fico de tanta besteira ouvir. Somente eu sei das minhas renúncias, o dinheiro é contadinho, mas feliz me sinto por poder “bancar” meu(s) curso(s). De família pobre, me ensinaram desde cedo que pobre não tem o direito de sonhar. Pois saiba(m) que sonho demasiadamente e que meu novo sonho é a “minha” clínica particular onde como pedagoga bilíngue, psicopedagoga e psicóloga focada na educação inclusiva/especial atenderei os meus pacientes num espaço único do qual juntarei o que aprendo com o Yoga e com os Tapetes Contadores de Histórias. Imensamente grata ao Universo por tudo sou, pois minhas conquistas têm um gostinho totalmente indizível. Cada degrau alcançado tem um misto de suor e prazer inefável.
Apesar de atualmente ainda não exercer o que tanto anseio – já que dizem que orientadora educacional, coordenadora pedagógica etc. não posso ser pois nunca fui professora, não tenho a prática, nem a pós lato-sensu do INES posso fazer para me aperfeiçoar na área da educação de surdos porque eu não tenho experiência; só que mal sabem que as portas fechadas me cristalizam e amadurem cada vez mais -, hoje sou funcionária de uma empresa que acreditou (acredita) em mim, que me respeita enquanto profissional e que não vê o que não tenho. Após uma longa tristeza consequente de uma discriminação sofrida no antigo trabalho, estou onde realmente me veem.

Estou vivendo um sonho, pois me alegra muito fazer essa especialização com a senhora. Agradeço a Deus todos os dias por tal oportunidade (há poucos meses iniciei a pós em Psicopedagogia Clínica). Tenho participado pouco, pois ainda não exerço a profissão que tanto sou enamorada. Contudo, aprendo muito não somente com a senhora e com o professor Jorge, mas com cada um dos seus alunos (aqueles belíssimos profissionais que tanto me inspiram também), com a Yara e com a Viviane. Gosto de ficar quietinha ouvindo o que vocês têm a me acrescentar e como criança com os olhinhos brilhantes e arregalados de curiosidade e admiração escuto minuciosamente cada silêncio pronunciado. Sinto-me honrado por essa experiência, por ser aluna do EPsiBA pela segunda vez. Um dos momentos mais felizes da minha vida foi quando fui ao seu encontro, no primeiro final de semana da turma 2014 do Rio, e a senhora me reconheceu. É tão bobo dizer isso, mas senti-me uma criança extasiada.

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